Assim, por que eu tinha a sensação de que Alina estava tentando fazer com que ficássemos juntos?
Não sei ao certo, mas, pra ser honesta, isso não importava. Estava feliz pelo fato de que ia pra casa de Alina aquele dia durante a noite. Não era algo tão especial assim, eu sabia. Outras pessoas, outras mulheres, faziam esse tipo de coisa o tempo todo... Tudo bem, talvez não o tempo todo, mas a maioria delas provavelmente sabiam que podiam fazer isso se quisessem, e supunha que aquela era a diferença entre eu mesma e as outras pessoas. Embora eu não tenha gostado da parte "minha irmã e alguns amigos dela". Quanto tempo fazia desde que havia feito algo que parecesse normal? Desde minha infância. Desde aqueles dias em que colocava moedas sobre os trilhos. Mas eu não contara toda a verdade a Alina. Não disse a ela que ia até o lugar onde o trem passava pra fugir do som das discussões dos meus pais, das vozes arrastadas que se insultavam mutuamente. Não contara a Alina que fui pega no fogo cruzado mais de uma vez e que, quando tinha 12 anos, fui atingida por um enfeite de vidro que meu pai lançou contra minha mãe. O objeto me causou um corte na cabeça que sangrou por várias horas, mas nem minha mãe nem meu pai demonstraram qualquer interesse em me levar pro hospital. Não dissera a Alina que meu pai era cruel quando estava bêbado, ou que ele nunca convidou qualquer pessoa, nem mesmo a Luene, pra visitar minha casa. Ou que não consegui ir pra faculdade porque meus pais achavam que era um desperdício de tempo e dinheiro. Ou que eles me expulsaram de casa no dia em que terminei o ensino médio. Talvez pudesse contar aquilo a Alina. Ou talvez não. Não era tão importante. E daí que eu não tivera a melhor das infâncias? Sim, meus pais eram alcoólatras e frequentemente estavam desempregados, mas, ignorando o incidente com o enfeite de vidro, eles nunca chegaram a me machucar. Não, eu nunca ganhei um carro ou tive festas de aniversário, mas nunca tinha ido pra cama sem jantar. E, quando era tempo de ir à escola, independente da situação financeira da família, eu sempre ganhava roupas novas. Talvez meu pai não fosse o melhor homem do mundo, mas ele não ia até meu quarto na calada da noite pra fazer coisas horríveis comigo. Aos 18 anos, eu não me considerava uma pessoa traumatizada. Talvez um pouco decepcionada por não ter cursado uma faculdade e nervosa por ter que encontrar meu caminho sozinha no mundo, mas não traumatizada além de qualquer possibilidade de recuperação. E eu consegui. As coisas não foram tão ruins em Buenos Aires. Conheci alguns bons rapazes e ainda me lembro de mais de uma noite que passei rindo e conversando com os amigos do trabalho até o dia amanhecer. Minha infância não definiu e nem definia minha vida, nem tinha algo a ver com a razão pela qual havia me mudado para Santos e, embora Alina seja a coisa mais próxima de uma amiga que tinha ali em Santos, essa amiga não sabia absolutamente nada sobre minha vida. Ninguém sabia.
Cheguei ao supermercado e comprei o de sempre. Voltei para casa quase correndo.
***
Alina: Você não se maquia? – disse assim que abriu a porta para mim.
Ariela: Não tenho maquiagens.
Alina: Mas suas sardas são realmente sua marca.
Ariela: Não gosto muito. – ela fez careta e me deu passagem para entrar.
Alina: Então, como prometido: 20h. Pode acreditar em mim, estou precisando muito disso.
Ariela: Teve um dia difícil?
Alina: Você nem imagina o quanto. Vamos?
Ariela: Sim
Alina: Nós vamos tentar esconder essas sardas pra tu ver o quão não-você vai ficar – dei uma risadinha.
Na sala, sentados no sofá, estavam uma moça que deduzi ser a irmã dela – embora não tivesse nada a ver com a mesma – e um rapaz.
Alina: Bom, essa é minha irmã, Camila. E esse é o Gustavo.
Camila: Nossa, ela é ruiva de verdade – Alina riu – Prazer, pode me chamar de Cami, ou como quiser – riu e eu sorri fraco.
Gustavo: Prazer, e pode me chamar do que quiser, também. Amor, mozinho, mô, mozão – os três riram, e eu sorri sem graça.
Alina: Cachorro – deu um tapa na testa dele – A gente vai se maquiar.
Gustavo: E precisa? Orra – pensei em algum significado que explicasse tal expressão — orra — mas foi uma tentativa frustrada.
Camila: Cala a boca, Gustavo – riram – Vão lá
Alina: Vamos – me puxou e entramos num quarto, simples, porém organizado – senta aí – apontou pra cama, e ali me sentei. Fiquei observando Alina pegando algumas coisas – Estou faminta, não comi nada o dia inteiro.
Ariela: Por quê?
Alina: Não tive tempo. O dia não foi dos melhores.
Ariela: O que houve?
Alina: Eu te conto depois. Primeiro, preciso comer, pra raciocinar – rimos – E você? O que fez de bom?
Ariela: Nada de mais. Fui até o supermercado, limpei o apartamento, lavei roupas. – ela se sentou à minha frente e começou a me maquiar.
Alina: Em outras palavras, material para o seu livro de memórias. – ri.
Ariela: Ah, é claro. Experiências incríveis. – rimos – Mas, falando sério agora, obrigada por me receber – suspirei.
Alina: Você não faz ideia do quanto eu estava esperando por este momento.
Ariela: É mesmo?
Alina: Não faça isso.
Ariela: Não faça o quê?
Alina: Não finja que está surpresa por eu ter te trago até aqui. Ou por eu querer reforçar nossa amizade com uma saída. Amigos são para essas coisas – disse ela, levantando uma sobrancelha – Ah, e já que tocamos no assunto, antes que você comece a se perguntar se somos realmente amigas e o quanto realmente conhecemos uma sobre a outra, confie em mim quando eu digo que considero você uma amiga. De maneira sincera e absoluta. – ela deixou que aquelas palavras causassem seu efeito antes de prosseguir – Então... – ela foi interrompida por alguém abrindo a porta. Era a Camila.
Camila: Vou no supermercado com o Gil, os meninos todos já estão aí.
Alina: Ta bom, então.
Camila: To indo lá. – os meninos... Isso inclui quem? Me perguntei.
Alina: Ok, já já vamos para sala. – ela terminou de passar lápis de olho em mim, logo quando Camila saiu dali. Se sentou ao meu lado na cama, e eu puxei assunto com ela, talvez só querendo adir o encontro com pessoas. Acho que ela percebeu. Conversamos sobre filmes e livros, e ela soltou um gritinho de prazer quando eu disse que meu filme favorito era El Secreto de Sus Ojos, disse que esse também era seu filme favorito – estranho, por ser um filme argentino. Até que não deu mais pra adiar, eu estava... apavorada?!? – Tá tudo bem – a olhei e assenti. Quando chegamos na sala, onde estavam, me surpreendi – sem exageros – com a presença do Neymar ali – Ari, esse são Jota, Gui, Gil, Cris, Rafa – foi apontando cada um e fui cumprimentando – E o Juninho que, você já conhece – assenti. Ele acenou pra mim e, embora não fizesse sentido, tive a sensação de que aquela era a primeira vez que realmente prestava atenção nele. Ele era tão... bonito.
NeymarJr: Oi, Ariela. Como tá?
Ariela: Estou bem. E você?
NeymarJr: Tudo tranquilo – disse abrindo um sorriso. […]
NeymarJr On *
Ela havia mudado nas últimas semanas, com um leve bronzeado e, sua pele tinha um brilho rejuvenescido. Também parecia menos insegura quando estava perto de mim, e o que acabara de acontecer foi um dos melhores exemplos. Não, aquele breve diálogo não despertou qualquer chama entre nós dois, mas era um começo, né? Mas o começo do quê? Desde o início, sentia que Ariela tinha problemas, e minha resposta instintiva era querer ajudá-la. E, é claro, ela era bonita, apesar do corte de cabelo que não combinava com seu rosto e das roupas que não valorizavam seu corpo. Ariela ainda representava um certo mistério pra mim. Havia um elemento que faltava, algo que vinha me incomodando. Observei-a, me perguntando quem ela realmente era e o que a trouxera até Santos. Ela estava sentada ao lado de Ali, estudando cada canto do apartamento. Com uma expressão séria no rosto, como se estivesse debatendo o que estava fazendo ali. Percebi que os dedos da mão direita dela estavam se movimentando ao redor do anelar da mão esquerda, dedilhando um anel que não estava ali.
NeymarJr Off *
Camila preparou o jantar com a ajuda da Rafa, já que Alina estava comigo. Enquanto jantávamos, eu estava apenas observando. Não que eu estivesse me sentindo mal, mas... Ok, eu estava me sentindo mal por estar ali.
Quando terminamos o jantar, eles resolveram abrir um vinho e acabei cedendo a insistência do Gil e da Alina, entrando na onda. Me distrai e deixei-me devanear em meio ao vinho, ao momento e ao riso fácil de todos ali.
Estou adorando! Eu não li o livro,a personagem vai se soltar mais no decorrer da historia??
ResponderExcluircontinuaaaa
ResponderExcluirContinua
ResponderExcluirAdorei, espero q ela se solte mais e se abra.
ResponderExcluirA cada capítulo eu mergulho mais na história. Continua
ResponderExcluirAdorei a fic.. Diferente de todas que já li, mas gostei e já espero o próximo capitulo. Bjus. Paolla
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